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Capa mole
Páginas: 296
Descrição:
Há palavras que se tornam estigmas, condenações, tabuletas na testa de quem subitamente é forçado a viver com elas. Mais de 30 anos de jornalismo, a conviver todos os dias com palavras e os seus significados, podem ainda assim deixar de fora esta ideia, na premissa de que as palavras são todas iguais, saem direitinhas no ecrã do computador, e mais perfeitas ainda na impressão do jornal, ou na paginação fria do tablet. Não são e essa foi a primeira surpresa que tive.
Um dia acordei com uma palavra mais na vida, e falei dela com os mais próximos como se fosse apenas uma palavra mais. Rapidamente a ilusão desapareceu - como se, na verdade, alguma vez tivesse existido.
Um poema não tem vida própria? Tem.
Uma carta de amor não é um coração vivo, que bate e se sente? Claro que sim.
Porém, como fiz das palavras profissão, nunca deixei que me escapassem da mão. Brinquei, joguei com elas, até as enganei - mas jamais permiti que se libertassem, como um filho aos 18 anos, ou que me dessem problemas, como um adolescente tonto. Fui-lhes fiel e leal - e exigi-lhes o mesmo.
Cumpriram. Até agora. Até ao dia em que uma palavra me deixou, a um tempo, carimbado, abalado e quase triste. Reconheço: acarinhado, também. Tudo ao mesmo tempo.
A palavra: cancro.