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A vida, os segredos, os mitos
Após 11 anos de cadeia – e ainda sem saber quando seria libertado –, Álvaro Cunhal foge do forte Peniche, em 3 de janeiro de 1960. Tem 46 anos. Mergulha de novo no inferno da clandestinidade. Atira-se ao trabalho de reorganizar o partido: corrige os «desvios de direita», afasta o rival Júlio Fogaça, impõe a sua linha. Arruma o PCP segundo a sua orientação. Apaixona-se por Isaura, quase 20 anos mais nova, filha mais velha do casal comunista que trata da casa clandestina para onde vai viver após a fuga. Nasce Ana. Vão os três secretamente para Moscovo. Junta-se-lhes Dorília, irmã de Isaura. O coração de Cunhal balança entre as duas irmãs. Isaura, a mãe da filha, é mandada de Moscovo para a Roménia. Cunhal fica com Dorília. É com ela que regressa a Portugal depois do 25 de Abril. Isaura vem a seguir. As duas irmãs, ambas funcionárias, convivem diariamente na sede do PCP. Já nos anos 80, quando o Mundo aguarda pela desagregação da URSS, o casamento com Dorília desmorona-se. Ela abandona o partido. Ele mantém-se fiel à velha linha. Casa-se com a sua terceira mulher, Fernanda Barroso, que aderira ao partido em 1974. Cunhal viveu sem se afastar um milímetro da ortodoxia comunista e determinado a preservar a sobrevivência do partido em que militou desde 1931 – numa rara capacidade de liderança e resistência que faz dele uma das principais figuras do século XX português.