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«Começa-se por combater o monstro, num gesto apaixonado e jovem e muito antigo, tão antigo como as profecias bíblicas, cujo som encolerizado e desértico continua a repercutir-se nos nossos tímpanos. No inevitável momento em que os olhamos nos olhos, vemos: ele é tão frágil. Tão frágil como um ser humano. Se este pensamento for bastante forte, é possível que o combate termine numa orgia de riso. O monstro poderá tomar várias formas, a começar pela forma inapreensível de Deus, mais assustadora que a do Diabo, que esse, ao menos, sabemos que veste de vermelho e tem cornos. Pouco a pouco, a monstruosidade divina incarnará em figuras humanas: o pai, a mãe, o outro sexo, ou simplesmente o bicho doméstico que nunca é inteiramente doméstico, porque irredutível à humanidade em que queremos confiná-lo. Talvez seja o gato o animal que mais se aproxima desta ideia, e o simples facto de ele não fazer ideia de estar a ser utilizado nesta ilustração é o bastante para o tornar sinistro. Como reagiria se soubesse? Pode imaginar-se que riria, mas é impossível demonstrá-lo. Não há histórias escritas por gatos. Regina Louro enfrenta neste livro diversos monstros. Mas ela sabe que os monstros fazem falta. Por isso combate-os fazendo desse combate um jogo, um motivo de renovadas descobertas, não se incomodando com a ideia de que essas descobertas sejam reciprocas.»
Nº páginas
120
Peso
153g