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Vamos recuar os relógios até 1989. O Muro de Berlim acaba de cair, e com ele a ameaça comunista. Francis Fukuyama decreta o fim da história: já nada poderá deter as democracias liberais. Passou um quarto de século. Em vários pontos do globo, mesmo nas democracias mais funcionais, abrem-se fissuras.
Segundo Yascha Mounk, três transformações sísmicas explicam o fenómeno. Primeiro, a economia estagnou, e a perda do poder de compra acarretou uma maior desigualdade de rendimentos. Segundo, intensificaram-se os movimentos migratórios, agudizando o sentimento de revolta contra imigrantes. Terceiro, as redes sociais deram voz a uma série de partidos e líderes populistas que antes não tinham tempo de antena - e o que eles prometem, embora irrealizável, é o que as pessoas querem ouvir.
É um cocktail explosivo. E os resultados estão à vista. O Brexit, ou as vitórias de Trump e de Bolsonaro são exemplos gritantes - porque mais próximos. Mas mesmo dentro da aparentemente inexpugnável fortaleza europeia abrem-se brechas - da escalada da extrema-direita na Hungria à subida ao poder de populistas nos países mediterrânicos. À nossa porta temos a Turquia, mais longe ainda a Venezuela de Chávez e Maduro ou a Índia de Modi.
Yascha Mounk, considerado um dos maiores especialistas mundiais na matéria, aponta como causa o crescente divórcio entre os direitos individuais e a vontade popular - um dos combates do século: Povo vs. Democracia.