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«Sou psicanalista porque sou psiquiatra. Para os da minha geração, ser psicanalista implica a procura da verdade, busca indispensável para sobreviver aos horrores da guerra, à destruição, à Shoah e ao regime de Vichy. A necessidade sentida pelos sobreviventes de darem um sentido à vida era tão absoluta, que por vezes nos tornámos sectários, ideólogos da caça às ideologias.
Procurar o verdadeiro para além do razoável, pode levar a afirmações terroristas, não verificáveis nem infirmativas, desprovidas, para além do mais, de uma ponta de poesia e humor. Muitos escritos de juventude são, por isso, ajuste de contas, mas levam os seus autores a demarcarem-se das ideias feitas.
Ser psicanalista é interrogar-se sobre o estatuto dos conceitos e dos objectos de conhecimento que permitam decifrar os movimentos psíquicos próprios e os do paciente. Instâncias psíquicas, modelos intrapsíquicos, pulsões, objectos de pulsões, fantasmas, todo o psicanalista utiliza estas palavras indispensáveis à compreensão, sem que por isso se deixe iludir por elas e cair no "realismo psicológico", há muito denunciado por Politzer. Uma crítica indispensável legitima o trabalho psicanalítico. Leva igualmente a reavaliar os conceitos da clínica psiquiátrica corrente.»