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Aos 24 anos de idade, Dang Thuy Tram ofereceu-se como médica voluntária para apoiar a luta que a Frente de Libertação Nacional (Vietcong) travava contra o exército do Vietname do Sul apoiado pelos norte-americanos. Colocada num hospital de campanha na Província de Quang Ngai, morreria dois anos mais tarde, vítima de uma acção levada a cabo por saldados americanos não muito longe do local onde trabalhava.
Quando morreu deixou para trás o diário que tinha escrito entre 1968 e 1970, páginas que foi preenchendo nos dias que serviu os vietcongs e onde fala, de forma envolvente e intensa, da sua dedicação à família e aos amigos, dos horrores da guerra, das saudades que sentia do seu amor da adolescência e da sua luta para provar a sua lealdade ao seu país. Por vezes crua, por vezes juvenilmente sentimental, a sua voz ultrapassa qualquer fosso entre culturas ao tratar da dignidade e da compaixão, dos desafios a enfrentar face à fúria de uma guerra sem limites.
Podermos ler hoje o diário da Dra. Tram só é possível porque, mesmo quando a guerra parece mais inumana, há sempre quem mantenha a lucidez, a sensibilidade do ser humano, mesmo quando veste a farda de um militar. Foi o que aconteceu com o oficial americano que encontrou o diário pouco tempo depois da autora ter morrido. As suas ordens eram para destruir todos os documentos que não tivessem valor militar, mas quando estava prestes a lançar o diário para as chamas, o seu intérprete vietnamita disse-lhe: "Não queime esse... Ele próprio já contém fogo". Violando todos os regulamentos, o oficial preservou o diário e guardou-o durante trinta e cinco anos. Até que, na Primavera de 2005, enviou uma cópia para Hanoi para a velha mãe da Dra. Tram. Passado pouco tempo o diário seria publicado no Vietname, provocando uma comoção nacional: nunca antes se lera um relato tão intenso e pessoal do longo suplício que consumira as anteriores gerações daquela nação. Em poucas semanas tornar-se-ia num best-seller, tendo já sido vendidos, só no Vietname, mais de meio milhão de exemplares.
Traduzido por Andrew X. Pham e incluindo uma introdução escrita pelo Prémio Pulitzer Frances Fitzgerald, Esta Noite Sonhei com a Paz é um documento extraordinário que narra as lutas pessoais e políticas de uma mulher em tempo de guerra. É, acima de tudo, uma história de esperança na mais terrível das circunstâncias históricas, uma história universal ao enaltecer, e também ao lamentar, a fragilidade da vida humana.