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Cru. Selvagem. Imersivo.
Ao ler este romance é impossível não nos afogar-mos no clima húmido do Brasil, sentir de uma forma crua a realidade retratada naquilo que o autor chamou como "o inferno verde". Explorando incessantemente a bestialidade da natureza humana no único cenário que o permite fazer em toda a sua dimensão - a Selva - este é um livro que se lê sofregamente, sendo-se facilmente absorvido pela realidade sensorial que nos é maravilhosamente descrito.
A Selva é um documento com trato estético sobre a vida dos seringueiros na floresta amazônica, presenciada pelo autor que, na condição de «exilado», foi «aprisionado» na selva para a extração do látex, durante o período de 1910 a 1914, quando o primeiro grande ciclo da borracha entrava em crise. O livro aborda a dimensão humana dos milhares de homens que se embrenharam na floresta seduzidos pela ambição, por promessas falsas de riqueza fácil, para fugir da seca no Ceará ou da miséria em alguma aldeia portuguesa.
Excerto: “Sim, a selva era bela, majestosa, mesmo deslumbrante. E era rica, havia de ser fantasticamente rica também, mas um dia – um dia que vinha ainda longe. Entretanto, toda a sua grandeza esmagaria, toda a sua deslumbrância seria volúpia do primeiro contacto, logo desvanecida pela monotonia; e os anónimos desbravadores iriam caindo, inexoravelmente, sob as febres, trespassados pelas flechas envenenadas, desvairados pela ausência do amor – escravos, pobres, miseráveis, ali onde a natureza erguia as suas mais fastigiosas pompas!”