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“No centro da História Fabulosa de Peter Schlemihl está o dilema em que o autor coloca o seu anti-herói: somos quem, ou o quê? Corpo ou sombra? Eu ou outro? Presente ou memória? Matéria ou alma?
Chamisso resolve o dilema em favor de uma incógnita — a alma que Schlemihl quer preservar —, prescindindo de uma matéria socialmente útil que tem sido também uma mais valia estética — a sombra. Outros, poetas e artistas do nosso tempo, associarão à sombra um sentido de verdade (Paul Celan: Fala verdade quem diz sombra). E nesse diáfano livro de sombras que é o Grand Herbier d’Ombres de Lourdes Castro, já muito longe de Chamisso, mas ainda sob o fascínio da sua história, as sombras pedem para ser lidas como tal — nem o real, nem a sua representação recortada, mas um terceiro nível do visível, um vulnerável jardim do acaso.”
João Barrento