Sê o primeiro a adicionar este livro aos favoritos!
«Ao longo das paredes estavam alinhadas enxergas. Dois baldes haviam sido colocados junto da porta e toda a gente se precipitou para eles, pois desde o almoço que nenhum de nós ousara pedir autorização para ir aos sanitários. Em alguns minutos os baldes transbordaram e o soalho ficou inundado. A sala era um charco. “Was ist hier? Sofort ruhe!” (Que se passa? Calem-se imediatamente!”, gritou o guarda disparando duas balas que se alojaram no tecto. “Deitem-se imediatamente!” Num silêncio de morte, estendemo-nos – uma enxerga para dois – e não nos mexemos mais. Do outro lado do tabique, crianças com fome e sede debulhavam-se em lágrimas e homens e mulheres gemiam. Haviam-nos espancado de tal modo que não podiam sentar-se, nem deitar-se, nem estar de pé. Há três dias que esperavam o momento em que os S.S. viessem buscar novas vítimas para as levar para o “areeiro”. Ao fim de alguns instantes comecei a falar com o meu vizinho, que, como todos os que trabalhavam no barranco, cheirava muito mal. As suas roupas fediam de tal maneira a cadáver que o seu cheiro era mais forte que o dos baldes. À nossa chegada, os ocupantes da célula ao lado haviam exclamado: “Que horror! Donde pode vir um tal cheiro?” E contudo também eles faziam ali as suas necessidades! Depois de discutirmos as possibilidades de evasão, pusemo-nos a falar do que se passara no barranco no decorrer das duas horas em que ali trabalhámos.»