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Na época em que o arquipélago dos Açores contava ainda apenas nove ilhas, a família de Inácio Jorge muda-se para a Terceira. Para trás ficavam as raízes, em São Jorge, o esplendor contangiante dos dias, os tios e as tias, o avô, a avó Eulália e os seus poderes de sibila, as histórias do tio António, e, com eles, os hábitos de toda uma vida. Um novo horizonte estendia-se agora diante dos olhos, o mesmo azul atlântico tocava a linha do céu, mas a terra, essa, era já outra. Aqui, os ritmos insulares antagonizam-se em nuances mais intensas - a modorra, que era mais lânguida e parecia querer eternizar-se em perpétuos silêncios, quase a deixar ouvir "o cair do tempo em pingos redondos e mansos", sobressaltava-se de modo mais abrupto com a vertigem do imponderável, do insólito, do iminentemente catastrófico, que tornava quase palpável o medo, um medo irracional que ganhava cor, consistência, tamanho. Cresciam as estranhezas - telúricas, aquáticas, humanas e crescia também o sonho, os muitos sonhos, quando dentro de cada um "..de repente havia o milagroso despertar de umas asinhas muito secretas e muito especiais (...) que palpitavam e espicaçavam para um modo de ser diferente." Um romance admirável, que nos retrata o universo açoriano, e muito em particular o terceirense, no ínicio de um novo milénio que chega à ilha envolto na aura do fantástico, com uma riqueza de cores e texturas que nada fica a dever à paleta do realismo mágico, tão cara à literatura sul-americana, que subverte a ordem natural dos fenómenos e desvela, aos olhos que vêem, o lado invisível das coisas.
No caso de entrega em mãos, o valor dos portes é descontado.