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"... experimentai confiar-vos de novo à mulher. Ela saberá sempre, de vós, tudo quanto o destino ainda não disse." É bem provável que a figura dominante de Entre Pássaro e Anjo seja de facto a muIher, ave pousada na manhā, como de uma delas chega a dizer o autor. E contudo, raras vezes como neste livro se terá ido tão longe na crueldade com que se descreve a ruína do corpo feminino e o velho adormecimento da paixão, o amargo refúgio do homem dentro da realidade autista dos seus sonhos.
Voar, diz ainda João de Melo, é a principal vocação de pássaros e anjos. Mas a humanidade está infelizmente sempre pronta a ignorar esse apelo, incluindo as mulheres que não raras vezes se transformam em «mães masculinas» com largo uso de repreensāo do próximo, e incluindo todos os pais mais ou menos agigantados que não gostam que seres minúsculos Ihes resistam pela força.
Entre Pássaro e Anjo flui assim entre a fantástica chama do que poderia ter sido e a irrisória e desencantada sorte do real quotidiano, entre o reconhecimento da simbólica largueza de poder em toda a parte haver mais mundos e a triste, apertada e sufocante condição do mundo a que afinal nos habituámos.
Em bom estado, algumas marcas de uso e manchas de humidade nas guardas e periferias do livro.