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A narradora esperou pela morte dos seus para começar a transformá-los em personagens. Mas Carlota, irmã dedicada, mãe de uma prole a que nunca deu à luz, não morreu. Vive na história, numa cúpula de eternidade indestrutível. Esta história é dela e (talvez) para ela. Foram poucas as vezes em que Carlota contou alguma coisa sem omissões — era assim que se libertava dos outros. Contou que eram seis irmãos e que nunca passaram fome. Dos pais, lembrou a coragem, e à memória que deles tinha acrescentava elogios — mas quando o fazia, recuava ou inclinava o corpo para trás. Quando todas as personagens começaram a morrer, o rebuliço incómodo da escrita surgiu. A ferida. E como saber tudo? Onde está a verdade? Não importa. Na fábrica de memórias suportáveis em que todos nos vemos, em que nos encontramos, nestas páginas sobre o que é ser uma família e o que é recordar, somos todos uma história. Um romance cuja ação decorre no Alentejo, marcado por um registo muito português. Uma estreia literária de maturidade incomum, o romance afirma uma nova voz na literatura portuguesa.