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Fragmentos do meu pensar reúne cem poemas de extensão variável. Alguns deles são numerados: 001… 012, treze, 014, 015; outros, porém, têm sugestivos títulos como “Lírios pretos”, “Semeador de chumbo”, “A insónia é um dom”, “Lua de sangue”, “Palavras feias”, “Nascimento da loucura”, “A minha mente está fora de controlo” e “(In)sanidade”. Os dois últimos em que há uma clara associação do ato criativo a demência. “É por ser mais poeta que gente que sou louco?”, interrogava-se Fernando Pessoa.
Neste conjunto de poemas, de versos em geral curtos que alternam com outros mais longos, segundo os limites do sentido, os leitores podem descobrir o “eu” do poeta que, em “Passeio do poeta”, o poema mais curto, vai “nostálgico/ por entre nuvens de abetos”. O mesmo “eu” que, no poema “Cadernos”, afirma “por detrás das metáforas que o lápis traça na minha mão/ vivo e cresço”.
Jorge Semprun dizia que “há coisas que só se podem escrever quando já não dói", mas o autor de Fragmentos do meu pensar escreve sobre o que sente e o que sofre em poemas como “Segredos”, “Palavras suspensas no tempo” e “Introspeção”. Noutros, trata da realidade e contradições da vida, do amor, das paixões, dos nobres sentimentos e dos seus contrários, em suma, do mistério de viver.
É no poema “Escrever” que o poeta explica porque escreve, como escreve e para quem escreve: Escrevo/ letras/ palavras/ frases/ com o sangue que me alimenta/ tentativas frustradas de versar/ dançam nesta singela folha/ onde a criatividade está ausente,/ na poesia sou apenas um trolha/ decidi escrever, escrever, escrever/ sobre o quê, nunca me apercebi/ até ao dia, ao momento/ em que decidi escrever para ti/ e escrevi/ letras/ palavras/ frases/ sobre o amor que existe em mim”. Está tudo dito. O amor é, pois, o leitmotiv da maior parte dos poemas de Fragmentos do meu pensar. O amor que, segundo Hélia Correia, Fenda Erótica: “é uma coisa rara, difícil de encontrar; e que só aparece, por acaso, e uma vez por século, se tanto, como outros fenómenos igualmente inexplicáveis, aqueles de elevar-se alguém nos ares ou de um analfabeto citar Cícero em correto latim”.
Agora, tem a palavra o leitor. É do leitor a liberdade de valorizar este ou aquele segmento à luz de uma visão de conjunto. Pode saborear as palavras, ponderando a distância que vai do significante ao significado, da presença à ausência. E estabelecer conexões com os elementos extratextuais. Ler é compreender, na conceção de Julia Kristeva, por isso há tantas leituras quantos os leitores. Boa leitura.
Contém selo branco de posse.