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“Raul nunca se esqueceu do vestido decotado de grandes bolas azuis, que Benvinda trouxe à praça pelas festas de S. Pedro. Nem da trança que lhe caía pelo ombro e lhe pousava no seio, como um ponteiro indiscreto. Nem da fita azul celeste que não acabava num laço, antes em pontas caídas que voavam com a trança sempre que os passos de dança exigiam rodopios. Raul nunca esqueceu os seus olho, nem o beijo bem roubado, dado à pressa e com vergonha, nas traseiras do alpendre. Nunca esqueceu o sabor. Nunca esqueceu a promessa, nem a tremura, nem o desfalecimento. Nunca esqueceu. Tudo isso levou consigo quando teve de embarcar, rumo à Guiné, para se fazer homem numa guerra que nunca sentiu como sua.