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O meu pai está no caos da sua primeira semana de luto, quando as cerimónias já tiveram lugar e os amigos se foram embora. Solidão, é aí que começa verdadeiramente a morte. Passou o dia a escolher as minhas coisas, a chorar entre dois telefonemas, a assoar-se abundantemente sem sequer invocar o pretexto da alergia ao pó. Resigna-se a deitar fora os meus velhos livros, depois de ter lido meticulosamente aquelas nulidades acumuladas, não fosse acontecer que eu tivesse esquecido alguma nota, um desenho, uma coisa qualquer pessoal que lhe servisse de mensagem. Não encontra nada, nenhum sinal. Depois destas horas de buscas aterradas - e apesar de tudo indiscretas, pai, é verdade que morri, mas, mesmo assim… -, eis que repara de repente, em rodapé daquela convocatória que o intrigava, numa indicação escrita a lápis, em letra muito miúda…
PRÉMIO GONCOURT 1º ROMANCE 2011