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Provavelmente hoje somos mesmo todos bastante suaves com a preguiça. Uma das provas desta suavidade está também no facto de lhe termos feito um upgrade. Antigamente a preguiça era tão ou mais condenada porque era assumida como um comportamento condenável. Mas actualmente a preguiça é muitas vezes considerada um traço de carácter. Deixou de ser uma coisa má que se fazia (não fazendo) para ser uma coisa neutral que se é.
A partir do momento que as acções que cometemos são privatizadas para a nossa própria personalidade, os outros passam a ser barrados de uma leitura moral activa dos nossos actos. Quem são os outros para me julgar? Quando muito, podem ver o que faço mas de preferência em silêncio. Tornando isto mais provocador: se eu tiver nascido preguiçoso, ninguém tem nada a ver com isso porque interferir na minha personalidade de raiz é agredir a minha individualidade natural.
Mesmo que não declaremos isto conscientemente, em boa parte é isto que a nossa cultura afirma num mundo que crê que a moralidade é uma construção subjectiva. O único sagrado que reconhecemos passou a estar em nós mesmos.