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AQUELA NUVEM E OUTRAS – Poemas
Eugénio de Andrade
Edição : Campo das Letras
9ª Edição - 2021
ISBN:9726102219
Páginas: 46
Dimensões: 255x218 mm
Capa dura
Exemplar sem marcas de manuseamento.
Excelente edição em papel couchét e capa dura
PREÇO:8.00€
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A maneira de explicação, se tal for necessário
Por mais impessoal que seja a minha poesia, nunca o foi tanto como a que ful escrevendo à medida que o Miguel la crescendo diante dos meus olhos, e me ia pedindo uma história ou um poema. Provavelmente isto é coisa comum entre miúdos, mas este parecia-me especialmente atraido pelas coisas da imaginação, e foi para o ver sorrir ou lhe dar prazer que inventei estas puerilidades, algumas das quais me atrevo agora a publicar. O mais curioso é que a palavra, com todos os seus sortilégios, parecia fasciná-lo, mesmo quando a não entendia. O que ele ignorava sabē-mo-lo nós de sobra: a simples matéria sonora - rimas, aliterações, reiterações, estribilhos, consonâncias - é fonte de sedução e razão de encantamento desde que o homem se demorou, pela primeira vez, a escutar o vento entre os ramos.
Ao escrever estes versos, procurei abrir os ouvidos da alma ás vozes que encheram os dias
jå distantes da minha infância. Por isso, não se deve estranhar que se encontrem aqui ecos de romances velhos ou velhos cantares, que também já ecoaram em Gil Vicente e Camões, se não é pretensioso juntar tão altos nomes ao nome tão humilde de minha mãe, que está na origem de todos os meus paraísos infantis, se me for consentido citar Baudelaire de maneira tão torpe. Tudo isto eu quis, consciente ou inconscientemente. Como quis também que o oiro e a púrpura das sílabas de certas palavras, cujo o aroma espesso nos mergulha inteiros num sono com grandes e luminosas frestas para o sonho - Alexandria, Turquestão, Granada pudessem aqui ser encontrados pela primeira vez. Eu seria outro poeta se, aos cinco ou seis anos, tivesse deparado com as cintilações dessas sílabas.
Só mais uma palavra. A uma retórica de fogo de artificio procurei opor, uma vez mais, e agora com redobradas razões, uma poética da luz, articulando a nudez e a transparência com a simplicidade de quem fala para que outros o escutem - daí o uso frequente das sete sílabas contadas, que é o ritmo natural e português da nossa fala, se não for também o dos nossos próprios passos. Quis misturar a minha voz às vozes anónimas da infância - oxalá ela venha a tornar-se anónima também.
Eugénio de Andrade
Setembro de 1986