D. PAYO DE ARRAIOLOS - Romance de brasão no dedo.

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D. PAYO DE ARRAIOLOS - Romance de brasão no dedo.
Autor(a)
Abreu e Sousa
Editora
Editora Livraria Progredior
Género Literário
Autores Portugueses
Desenvolvimento pessoal
Romance
Humor
Sinopse

D. PAYO DE ARRAIOLOS - Romance de brasão no dedo.

Abreu e Sousa

Porto, Editora Livraria Progredior

Primeira edição 1958-

Páginas:196-

Dimensões: 195x130 mm

Peso: 189

IS 1543325890

 

Exemplar em bom estado, sem rasgos. Capa com manchas de acidez. Miolo limpo.

 

PREÇO: 12.00€

PORTES DE ENVIO PARA PORTUGAL INCLUÍDOS, em Correio Normal/Editorial, válido enquanto esta modalidade for acessível a particulares.

Envio em Correio Registado acresce a taxa em vigor.

 

 

 

 

 

“D. Payo Segismundo de Macedo Lencastre e Maldonado nasceu em Arraiolos, terra dos seus maiores. Foi seu pai o licenciado em leis D. Freixo Maldonado de Espada à Cinta, par do reino, catedrático ilustre e membro da Academia Recreativa Científico--Musical Minerva e Apolo. Sua mãe D. Bárbara Fortunata Macedo de Cavaleiros era senhora de altas virtudes e saber vasto.

 

Quer do ramo paterno, quer do materno, os antepassados de D. Payo só recolheram aos bastidores da eternidade depois de ter sido aplaudidos como aquelas vedetas que têm o nome em letras gordas nos cartazes. Uns foram heróis, outros mártires, uns sábios, outros artistas.

 

Os heróis começaram nas cruzadas a mostrar o seu valor. De que não nos devemos admirar, pois um "cruzado ao câmbio do dia, valia mais de que vale hoje uma libra em oiro. Os descendentes dos cruzados apareceram depois peões e cavaleiros. Estes, nas duas corridas à espanhola em que tomaram parte, uma em Aljubarrota e a outra em Lisboa, em 1640, fizeram notáveis actuações. Entre os cavaleiros distinguiram-se D. Simão da Veiga e Menezes (Simãozinho) e D. João Núncio da Silveira (Alcácer do Sal). Os peões também estiveram diligentes. E ajudando a tempo os cavaleiros, foram excelentes peões de brega".

 

Mais tarde essa plêiade de heróis reapareceu com uma vitalidade tal, que muitos historiadores não receiam afirmar que ela só poderia ter resultado duma enxertia de glândulas de macaco. Durante as invasões, os antepassados do fidalgo, na impossibilidade de se atirar às francesas, atiraram-se aos franceses. Embriagados por um patriotismo de boa cepa, foram dos que mais patearam as três «tournées napoleónicas.

 

Tempo depois voltaram a dar sinal de si.

 

Quando os manos Pedro e Miguel se engalfinharam, na via pública, por causa duma coroa, os valentões tiraram o casaco, arregaçaram as mangas da camisa e entraram na desordem. Como eram liberais, não davam liberdade aos outros de pensar dum modo diferente. Malhado que lhes caísse nas mãos ia fazer turismo para o outro mundo.

 

Esse grupo de heróis ainda hoje mantem as suas tradições. Se não se bate, cheio de bravura, contra os mouros, bate-se, cheio de entusiasmo, com filmes de cow-boys; se não defende, no campo de batalha, a Pátria ameaçada, defende, no Campo da Constituição, as balizas em perigo; se não aguenta, a pé firme, as investidas das hostes castelhanas, aguenta com estoicismo os discursos da Emissora Nacional.

 

Os mártires também deixaram fama. Voltando a cara à Glória dos feitos heroicos, mocetona sadia, de polpas rijas, que se lhes oferecia numa nudez de peça proibida pela censura, caíram nos braços duma vida de sacrifícios, magricela sem atractivos recomendados pela Propaganda de Portugal. Em vez de aceitar a oferta da mulheraça, disposta a levá-los ao sétimo céu, voltaram-se para a trinca-espinhas com a certeza de não passar do rez-do-chão. Uma garantia-lhes cama, mesa e roupa lavada, num palace luxuoso; a outra não ia além dum quarto a seco, numa pensão modesta. Pois eles não hesitaram. Trocaram a cama fofa, a comida a horas e as mudas diárias de roupa branca, por uma tarimba de soldado numa trapeira com arrefecimento central.

 

D. Plácido Manso e Boavida foi mártir porque casou três vezes. A primeira com D. Mécia Bravo de Leão, uma dona de buço atrevido, 1,75 sem saltos e braços de sogra em boa forma. Os ciúmes enfureciam-na. Para o esposo não a atraiçoar, sempre que ele saía do castelo, punha-lhe um cinto de castidade com fechadura "Vale". A segunda vez consorciou-se o fidalgo com D. Tibúrcia Fortes do Bulhão, outra dama de cabelo na venta. Quando se zangava, o objecto mais insignificante que atirava à cabeça do marido era uma armadura completa. A terceira mulher de

 

D. Plácido chamava-se Aldegundes Lobo Guerra. Como as suas antecessoras mimoseou-o com uma vida de cão. As mesmas picuinhas, as mesmas árias de prima dona ciumenta, os mesmos exercícios de tiro ao alvo.

 

Mártir foi também D. Benigno da Paz dos Anjos, professor primário. Põem os cabe-los em pé as narrativas trágico-terrestres dos seus sofrimentos para conseguir, com o ordenado que ganhava, morrer a prestações. Ou-tro com o mesmo ordenado, teria morrido duma vez.

 

Igualmente abriram sinal no martirológio o poeta D. Mimoso da Piedade Bonito que passou tormentos à procura dum editor para o seu primeiro livro de versos e D. Simplício Modesto Leitão pelo muito que sofreu a aturar as freguesas na loja de modas onde estava empregado.

 

De mistura com heróis e mártires encontramos na história da parentela de D. Payo, homens de ciência. Alguns males que afligem a humanidade, desapareceram, mercê das experiências levadas a cabo por esse escol de cientistas. Não é grande a lista dos avoengos do fidalgo que derreteram o bestunto no cadinho dos laboratórios. Mas os que nela figuram são autores de obras que, se não passaram a fronteira, foi, apenas, porque nesse tempo não havia passaportes.

 

D. Roque Alcoforado de Campo Lindo, depois de pacientes investigações, descobriu a vacina contra os credores. Caloteiro que fosse vacinado com essa maravilha da ciência ficava, completamente, imune. Os micróbios dos comerciantes refilões não queriam nada com ele. Estava livre de ser atacado, em plena rua, por um merceeiro casca grossa ou por um senhorio sem papas na língua. Infelizmente o sábio levou para o outro mundo o segredo do medicamento. Se hoje se preparasse teria com certeza mais consumo que a penicilina.

 

Igual em valor a D. Roque, D. Altamiro Epaminondas Cabral de Belos Ares, físico--mor do paço. Acarinhando, desde novo, o sonho de encontrar a cura para certas enfermidades, descobriu, aos oitenta anos, um reconstituinte de efeitos imediatos nas anemias dos ordenados dos funcionários públicos.

 

Como necessitava do apoio do Estado para lançar o medicamento, só conseguiu um aumento de 35°%%, sujeito a descontos, sobre o capital de que dispunha. Mas os descontos subiam a 150%%. Por isso D. Altamiro ainda teve que pagar ao Estado. Pobre e doente recolheu a um convento, onde morreu com a mágoa de não ter posto os ordenados dos funcionários públicos fortes e anafados como os dos administradores da C. P.

 

Não ficou atrás de D. Altamiro, o seu primo em quarto grau D. João Amoroso da Paixão, cientista de nome e um dos grandes valores da nossa terra. A sua vida de sábio foi coroada por um êxito notável. Mas para o alcançar, quantas experiências negativas, quantas investigações inúteis. Outro que não fosse D. João teria sucumbido. Ele teimou. E ao fim de vinte anos dum trabalho persistente, metódico, exaustivo, descobriu a ma-neira de herdar a fortuna duma velha rica.

 

O resultado da descoberta foi maravilhoso. O sábio que vivia de casa e pucarinho com uma pobreza franciscana, passou a rodear-se dum luxo de volframista. A bolsa, habitualmente, numa rigorosa dieta monetária, encheu-se de dobrões de oiro. As casacas da melhor seda deportaram os gabinardos no fio, os sapatos de fivela de prata renderam a guarda aos esburacados com so-as de papelão. Com provas à vista, D. João pôde fazer o elogio da sua descoberta. O mesmo não puderam fazer os parentes da veIha rica, que ficaram sem vintém.

 

Os artistas da família de Payo, D. Ruy Frutuoso Balsemão (S. João Novo) e D. Paulo Alcibíades de Castro (Laboreiro) não tiveram a sorte dos seus antepassados. Só alcançaram a celebridade século e meio depois de terem fixado residência, definitiva, no outro mundo.

 

Os críticos da época zurziram-nos àsperamente. Com as penas de pato molhadas no fel duma rudeza crua, encheram laudas de comentários azedos à obra dos dois pintores. E com razão. Diante dum quadro de D. Ruy ou de D. Paulo ninguém podia negar, a qualquer deles, um atestado de incompetência. As figuras que não eram mostrengos, eram mamarrachos, as que fugiam do grupo dos mamarrachos, caiam no dos mostrengos. Os dois artistas cometiam verdadeiras barbaridades. Pintavam orelhas nos olhos, bocas no umbigo e calcanhares na décima terceira costela. Na paisagem o mesmo reboliço. Uma campina na primavera era tal e qual um carro de bois a subir os Clérigos.

 

Século e meio depois os críticos de arte chegaram à conclusão que os seus colegas de outrora não sabiam nada do ofício. Hoje os quadros dos dois pinta-abortos são obras de génio e D. Ruy e D. Paulo os percursores da pintura modernista.”

Idioma
Português
Preço
12.00€
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