Sê o primeiro a adicionar este livro aos favoritos!
SOLO DE CLARINETA- Memórias – 1º Volume
Erico Veríssimo
Edição: Livros do Brasil
Páginas: 376
Dimensões: 220x150 mm.
Peso: 527
IS 1543325890
Exemplar bem conservado, sem rasgos.
PREÇO: 11.00€
PORTES DE ENVIO INCLUÍDOS, em Correio Normal/Editorial, válido enquanto esta modalidade for acessível a particulares.
Envio em Correio Registado acresce a taxa em vigor.
SOBRE O LIVRO
Influências, infância, viagens, política, literatura: a vida de Erico Verissimo em dois volumes de memórias que se lêem como romance. Os volumes apresentam uma cronologia que cruza dados biográficos da família Verissimo com a vida dos personagens das obras mais famosas do autor.
Solo de clarineta é uma obra múltipla: reflexões de um escritor sobre sua ficção e a arte literária, testemunho de um período da história brasileira e mundial, e retrato de uma família que parece tirado de um romance.
O leitor mergulha no caldo da matéria-prima de onde brotou a obra do autor de O tempo e o vento nos dois volumes que revelam a trajetória da família Verissimo, desde Erico garoto, passando pela decadência econômica da família, pela luta da mãe para manter os filhos com o trabalho de modista, pelas leituras de um menino à sombra de uma ameixeira-do-japão, até a consagração de Erico Verissimo como um dos escritores mais importantes da literatura brasileira.
O primeiro volume de Solo de clarineta (1973) segue da infância de Erico até a década de 1950, quando Dave Jaffe pede Clarissa, filha de Erico, em casamento. O segundo, que se abre com as bodas de Clarissa, registra as andanças do escritor pelos Estados Unidos e pela Europa. Inacabada, essa segunda parte foi organizada postumamente por Flávio Loureiro Chaves e publicada em 1976.
" (...) Antes de começar o " ambicioso projeto, " eu precisava vencer minhas resistências interiores. O passado que nos foi contado era apenas uma mitologia. E quanto mais examinava a nossa História, mais convencido ficava da necessidade de desmitificá-la.
Quem era eu em1930? Um moço que vivia no mundo do faz-de- conta, alimentado por livros, discos, pinturas e fantasias. Quem era Tancredo Lopes ? Um gaúcho de pés plantados na terra- com defeitos, com fraquezas , é natural ,pois era de carne e estava vivo- um ser humano que tinha a sua integridade, o seu código de honra,que convivia não só com seus semelhantes mas também com os bichos, as plantas e a terra...Sabia fazer coisas com as mãos rudes,afeitas as geadas e soalheiras. O menos que se poderia dizer dele é que tinha muito mais utilidade que eu. Criava gado, fazia tropas, plantava,colhia - tudo em pequena escala,pois era pobre-, em suma , produzia coisas concretas muito mais necessárias à vida comunal do que as minhas ficções. E quem me autorizava a afirmar que ele não tinha vida anterior? Não alimentaria - é evidente - a dúvida de Hamlet, pois os gaúchos de sua têmpera haviam já decidido sem metafísica que ser é preferível a não ser. Cabia,pois, ao romancista descobrir como eram "por dentro" os homens da campanha do Rio Grande. Era com aquela humanidade batida pela intempérie,suada e sofrida, embarrada, terra-a-terra, que eu tinha de lidar quando escrevesse o romance do antigo Continente. Talvez o drama do nosso povo estivesse exatamente nessa ilusória aparência de falta de drama.
(...) O Rio Grande estava cheio dos mais variados tipos humanos. Havia o valentão, o coronel,o peão, o gaudério, o bandido, o poltrão, o paladino, o gaiato, o sisudo, o potoqueiro, o gaúcho da cidade com flor no peito...tantos!
E assim, depois que compreendi tudo isso, as personagens para o projetado e sonhado romance me foram saindo da memória, como coelhos duma cartela de mágico.
Agora como que tinha diante de mim (,,,) mulheres que eu conhecera, admirava e estimava. Elas me apareciam na mente ora envoltas em seus xales, enquanto o minuano soprava lá fora, ora fazendo pão ou queijo na cozinha, ou, ainda, balançando-se nas sua cadeiras, esperando seus homens que estavam nas lidas dos campos ou da guerra...
Idiota! Como era que eu não tinha visto antes toda essa riqueza? Era meu povo. Era o meu sangue. Eram as minhas vivências, diretas ou indiretas, que por tantos anos renegara.
(...)