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MANUEL LOPES é natural de S. Vicente (Cabo Verde). Daí a razão e clima de toda a sua obra, na qual nos informa e transmite a tragédia do ilhéu renegado pela terra que se lhe recusa, solicitado pelo mar cuja serena imensidade o fascina, mas sempre hesitante em deixar as desilusões do dia a dia por troca de oferecidos e vagos favores que de além lhe são acenados. A presente obra será uma consagração definitiva dum escritor que podemos situar entre os grandes ficcionistas contemporâneos.
“Agosto chegou ao fim. Setembro entrou feio, seco de águas; o sol peneirando chispas num céu cor de cinza; a luminosidade tão intensa que trespassava as montanhas, descoloria-as, fundia-as na atmosfera espessa e vibrante. Os homens espiavam, de cabeça erguida, interrogavam-se em silêncio. Com ansiedade jogavam os seus pensamentos, como pedras das fundas, para o alto. Nem um fiapo de nuvem pairava nos espaços. Não se enxergava um único sinal, desses indícios que os velhos sabem ver apontando o dedo indicador, o braço estendido para o céu, e se revelam aos homens como palavras escritas.”
A história: Uma ilha inóspita em que a seca atravessa a paisagem, as vidas e as entranhas daqueles que vivem da terra e que olham para o céu que todos os dias é de uma angústia azul. Vidas esmagadas pelas forças da Natureza, homens que procuram a chuva em fiapos de nuvens esquecidas pelo vento.