Solilóquio Mudo

De um dos maiores escritores do nosso tempo nasceu a obra Solilóquio Mudo, um notável exemplo de literatura que ocupará o seu lugar ao lado das obras de Aleksandr Soljenitsyne e Jacobo Timerman. 
Em 1965, Pramoedya Ananta Toer foi um dos heróis da revolução indonésia. Já então era considerado um dos melhores escritores que aquele país alguma vez produzira. Todavia, nesse mesmo ano, e à medida que a Indonésia mergulhava num período de intensa contestação social, dezenas de milhares de pessoas, entre elas Pramoedya, foram detidas e, na sua maioria, exiladas na remota ilha de Buru. Prisioneiro em Buru durante 11 anos, sem qualquer julgamento ou acusação formal, Pramoedya e os seus companheiros de prisão foram forçados a desbastar caminhos na densa selva, a construir campos e a roubar comida. Muitas centenas morreram devido à fome, aos maus tratos e doenças. 
Pramoedya tinha licença para escrever apenas em raríssimos momentos, o que não o impediu de terminar os quatro romances que hoje constituem o clássico Buru Quartet. Entre os seus escritos contam-se ainda apontamentos para um diário, ensaios e epístolas. A maior parte foi confiscada e destruída; contudo, os documentos que se salvaram constituem o Solilóquio Mudo, obra que a Quetzal Editores publica em Portugal. 
Solilóquio Mudo é um angustiante retrato da colónia penal e da vida antes de lá chegar. Relatando a história de um companheiro de cela, recordando os mortos e os desaparecidos, discutindo o significado da cidadania, ou dando conselhos aos seus filhos em cartas que não chegariam ao seu destino, Pramoedya revela a sua coragem, integridade e empenho na defesa dos valores da justiça social. Solilóquio Mudo é, acima de tudo, um apaixonado tributo à liberdade de pensamento e ao humanismo.