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O carteirista vivia num país de cenho carregado, que se arrastava penosamente ora com medo da insegurança ora desconfiado dos políticos que queriam acabar com ela. Vivia num país cansado, que trocara a revolução pela revolta, a discussão pelo bocejo, o mar pelo sofá frente à televisão.
Rebelou-se. Desatou a rir às gargalhadas, e o país ordeiro, servil à novela e medroso da inflação, assustou-se. Foi proclamado o estado de sítio. O governo exilou-se, o povo refugiou-se em casa e o carteirista fugiu para o céu. Esconde-se numa nuvem, algures entre o nascer do Sol e a Estrela Polar. Há quem diga ainda hoje que se ouve o troar dos canhões. Outros asseguram que não. É apenas o carteirista a rir impiedosamente do país inseguro, hesitante entre uma telenovela e um jogo de futebol.