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Os poemas de Cóias desmentem aquele gráfico que arruma os novos poetas em tendências esquemáticas. Coias não se assemelha a nenhum dos novos: a sua poesia valoriza a retórica mas não se interessa pela visceralidade, é pastoral mas nunca provinciana, é estranha mas não hermética, é referencial mas não colada ao quotidiano. Alguns poemas têm como cenário caminhos, lagos, estepes, viagens, num tom de sofisticação fria e quase romana que faz lembrar o poeta inglês Geoffrey Hill, O passado, o presente e o futuro são aqui uma mesma dimensão, complexa, densa, elíptica. A Ordem do Mundo é um pequeno volume composto por trinta poemas longos (para os usos actuais) e com versos extensos, cheios de cláusulas e orações seguramente subordinadas e coordenadas que tornam Coias uma caso quase único na sua geração: "Nem a demanda conseguirás / que se acabe - mesmo que a ti a fortuna se confie, / nem o estudo será para teu gáudio - ainda que dos sábios ins¬pirado, / nem te assistirá o talento e o consolo abrandará o teu anseio, / nem que fosse o amor podias viver livremente. / E nem mesmo o profeta ditando versos terá discípulos / se jamais concilia os escrivães com a sua mágoa, / nem o jovem ser á de graça favorecido - pois ela o trairá, / nem o rio que outrora baptizaste lembrarás / se sob a névoa o não vires primeiro. / Donde ides então para que vos siga piamente / - acaso atalharemos o pai s de cerradas dunas como campas, / quando na distância os dois brilharmos - os / dois entre solenes ri¬sos de guardar silêncio? / Longe do que pensaríamos algum dia consentido, / longe de nos julgarmos sob funesta sina, / do que irá passar-se brevemente o saberemos: / -muitas vezes soubemos quanto a beleza tarda, / mas só ela tolera dispormos do mundo fugazmente / e com essa cega mágoa ir mais além" (pág. 49)". A ética dos últimos três versos é uma chave para esta poesia antiga e original.
Ano: 2006
Número de páginas: 96
Capa: Capa Mole