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«Quando, em 1972, Nélida Piñon publicou A Casa da Paixão, a ditadura militar torturava o Brasil há oito.
Toda a escrita é transgressão, aventura nas escarpas da liberdade, coragem de encarar os abismos da existência humana – ou então, não vale a pena escrever.
Nélida teve sempre com a palavra essa relação de intransigente honestidade e valentia que caracteriza o escritor autêntico.
Que um livro tão livre tenha sido escrito num país sufocado por um regime de terror, e escrito por uma narradora opiparamente omnisciente, com suficiente autoconfiança para dispensar toda e qualquer certeza, não é acontecimento de somenos.
Um romance destemidamente erótico e sem biombos sentimentais.
Um romance que faz da língua portuguesa uma experiência libidinosa.
Um romance que pega no registo da narrativa clássica – introdução, desenvolvimento e clímax – para o fazer explodir, e, explodindo, recomeçar a pensar.»
Do prefácio de Inês Pedrosa