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A investigação incide sobre um período particularmente fecundo da historiografia portuguesa acerca do regime que dominou quase inteiramente a sua história do século XX. Num quadro de atenta reconstrução da vida política nacional, em cujo âmbito se tem vindo progressivamente a consolidar a afirmação de Salazar e do seu regime político, é de maneira convincente que o autor estabelece uma relação entre a afirmação do fascismo, em Portugal, e as ruturas epocais produzidas pela Grande Guerra, apesar da escolha de neutralidade feita pelas suas elites políticas. Não é, de facto, por acaso, que a elaboração teórica do futuro ditador, que o levou a assumir um papel significativo na cena política, decorreu dos seus estudos sobre a economia de guerra (…)
Para delinear as características específicas desta variante lusitana do fascismo continental, Jorge Pais de Sousa retoma e valoriza a definição de “fascismo de cátedra”, proposta nos anos trinta pelo poeta efilósofo espanhol Miguel de Unamuno para definir o Estado Novo, na tentativa de superar o dualismo interpretativo entre aqueles historiadores(Torgal, Rosas, Collotti, Loff) que colocaram a tónica sobre as características plenamente fascistas do regime português, e outros investigadores que, na senda das taxionomias elaboradas pela politologia americana sobre o totalitarismo(Costa Pinto, Payne, Nolte, Gentile), o situaram no campo do tradicional autoritarismo. A obra não se exime, pois, à questão metodológica central do atual debate historiográfico, tendo o mérito de enfrentar uma contraposição que dividiu a historiografia portuguesa, no intento de fornecer uma abordagem original capaz de a superar, para libertar a pesquisa histórica da vinculação a um debate que se arriscava arrastá-la para uma linha morta.
Alberto De Bernardi, da Universidade de Bolonha