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com tradução de Luiza Neto Jorge
Na altura em que todos nós escrevíamos histórias eróticas a um dólar a pagina, é que eu vi que, durante séculos, houvera apenas um único modelo para esse género literário — o dos homens. Já então eu estava consciente de que as concepções masculina e feminina da experiência sexual eram diferentes. Sabia que um profundo fosso separava as cruas palavras de Henry Miller das minhas ambiguidades — a sua visão rabelaisiana e humorística do sexo e as minhas descrições poéticas das relações sexuais, a que me referia nos fragmentos não publicados do Diário. Como digo no terceiro tomo do Diário, achava eu que a boceta de Pandora continha os mistérios da sensualidade feminina, tão diferente da do homem, e para a qual a linguagem masculina se mostrava inadequada.
As mulheres, pensava eu, estavam mais aptas para unir a sexualidade à emoção, ao amor; preferiam um único homem à promiscuidade. Pareceu-me isto assaz evidente ao escrever os meus romances e o meu Diário, e tornou-se-me ainda mais claro quando comecei a dar aulas. Mas, apesar da diferença fundamental entre a atitude da mulher e a do homem acerca de tais questões, nós não dispúnhamos ainda de uma linguagem que a exprimisse.
Escrevi esta minha Erótica acima de tudo para divertir, instigada por um cliente que pretendia que eu "deixasse a poesia de lado". Julgava eu que o meu estilo era mais ou menos copiado das obras sobre o assunto escritas por homens. Pareceu-me, por isso, durante muito tempo, que comprometera a minha verdadeira feminilidade com esses textos. E assim pu-los de lado. Ao relê-los, muitos anos mais tarde, dou-me conta de que a minha própria voz não foi completamente abafada. Empreguei, de um modo intuitivo, em inúmeras passagens, a linguagem de uma mulher, descrevendo as relações sexuais do ponto de vista feminino. Decidi-me finalmente a publicar esses textos eróticos, porque eles representam os esforços primeiros de uma mulher num domínio até aí reservado aos homens.
Se a versão não expurgada do meu Diário for algum dia publicada, esse ponto de vista feminino ficará expresso ainda mais claramente. E será uma prova de que as mulheres (e eu mesma, no Diário) nunca separam o acto sexual do sentimento e do amor pelo homem, todo ele,
Anaïs Nin, Los Angeles, 1976
Detalhes do livro:
Tradução: Luiza Neto Jorge;
Dimensões.: 12,8 x 20,2 cm;
Páginas: 268