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Quando descobri que contar histórias era falsear factos, confundir situações, evocar memórias falsas, percebi que apenas o que se escreve despojado de pose é genuíno: nunca me interessei por livros extensos, mas por livros bem escritos. No entanto, só recentemente entendi que livros bem escritos são insuficientes e que livros genuínos são bem melhores. Percebi igualmente que a diferença entre boa literatura e literatura genuína é esta: o que é genuíno engloba não só a qualidade, a realidade, a veracidade e a ficção, como, e principalmente, aquilo que, assumidamente falso, entendemos como outra verdade. O que é genuíno prescinde do realismo e da veracidade dos factos: o que é genuíno transcende tudo isso, e torna verdade aquilo que é ficção e mistificação, torna verdade aquilo em que se acredita. E ser-se genuíno, na escrita, é esta fé no que se escreve. Esta fé inexplicável numa verdade que se ama muito mais do que se prova.
Um dos meus contos, aquele que dá título a esta antologia, tem tanto de verdadeiro como de falso, de realidade e possibilidade especulativa. Mas a prova de que é um texto genuíno foi ter-me comovido com ele, no momento em que o escrevi e, mais tarde, o reli. E, ainda melhor, quando o dei a ler às minhas três filhas, em datas diferentes, e cada uma delas não ter resistido a soltar o açude de lágrimas reprimidas pela tensão da escrita. Essa prova de fogo foi, para mim, o melhor julgamento crítico que alguma vez pudesse ser feito sobre a minha obra. E foi assim que intuí que poderia exprimir de uma forma peculiar a minha humanidade.
[in nota introdutória do autor]