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Uma das mais aclamadas escritoras da atualidade, Julia Alvarez traz para este romance uma singular visão sobre o universo feminino na cultura caribenha. Dominicana como as protagonistas Salomé ("la musa de la patria") e Camila, a autora combina às pesquisas históricas suas reminiscências da terra natal e o peso do sentimento de perda que experimentou bem cedo, ao imigrar com a família para o exílio nos EUA.
Julia Alvarez faz um retrato contundente e, ao mesmo tempo, lírico da jovem Salomé Ureña, antes que ela se tornasse a poetisa maior da República Dominicana. Corre a segunda metade do século XIX e Salomé aprende a fazer versos e a pensar na essência das coisas do país com seu excêntrico papá. "A história de minha vida começa com a história de meu país, já que nasci seis anos depois da independência, uma criança enfermiça, que ninguém esperava que fosse sobreviver. Mas, ao completar seis anos, a minha saúde era melhor do que a do meu país, pois la patria já tinha sofrido onze mudanças de governo."
A instabilidade política afetava diretamente a família de Salomé e os problemas eram traduzidos em palavras. Aos 17 anos, ela vira um ícone nacional com seus poemas patrióticos. Tal reconhecimento permitiu à moça conviver com as principais cabeças pensantes do país naquele momento e, posteriormente, fundar e gerir a primeira escola secundária de moças da República Dominicana. Até em sua vida privada, Salomé impressionava aos conterrâneos: fugiu totalmente dos padrões de então ao casar-se com um homem dez anos mais jovem, por quem foi apaixonada até o fim da vida. Ao mesmo tempo, o casamento era sacrificado pelo envolvimento político e pelas traições do marido.
Em paralelo à história da poetisa, Julia Alvarez apresenta, já na década de 1960, Camila – filha que Salomé teve pouco antes de morrer. Ela é professora universitária e está prestes a se aposentar. Nunca se adaptou plenamente à vida nos Estados Unidos e sente que esta é a última oportunidade para recomeçar e buscar o verdadeiro sentido de sua existência. "Vou ter que começar com a minha mãe, o que quer dizer com o nascimento da pátria", conclui, dando a entender para a amiga Marion por que está se mudando para a turbulenta Cuba naquele momento.
Para alcançar tal decisão, Camila repassa toda sua vida. A chegada aos Estados Unidos, a amizade com o irmão Pedro, o caso amoroso com Marion, a chegada do pai à presidência e o exílio em Cuba nos anos 20 com sua segunda (ou terceira) família, a morte da mãe. Enquanto Camila volta ao passado imersa em questionamentos, o tempo de Salomé avança – como se a filha vivesse duas existências, reconstituindo a de sua mãe por meio de memórias, cartas e poemas, e regredindo na própria trajetória para explicar suas angústias.
Em nome de Salomé envolve o leitor numa narrativa em que os destinos de duas mulheres da família Ureña convergem para um surpreendente e atemporal encontro de mãe e filha. As duas histórias são desenvolvidas em estruturas independentes mas laboriosamente complementares. O resultado é uma trama encadeada nos mínimos detalhes e recheada de surpresas. A rica descrição do ambiente familiar e dos contextos políticos e culturais por que passaram as personagens leva a uma completa imersão em seu universo.